Casa Vogue 06/2014

Descrição

Bahia, município de Porto Seguro, povoado de Trancoso. Ali fica, entre outras construções simples, uma morada de singeleza desconcertante. As paredes claras, o cimento queimado branco, a madeira de portas e batentes, a mata do entorno e as flores caindo em franja na fachada são parte de uma espécie de samba tocado por orquestra sinfônica, um Candeia para quatro pianos e violinos. Tudo bem, Candeia não era baiano, mas carioca. E esta casa bem baiana não é fruto da criatividade local, mas da cabeça de uma nova-iorquina: Jan Eleni Lemonedes, designer de interiores, o que explica o olhar treinado para rastrear belezas em qualquer lugar.

O contato inicial dela, do marido, Ronnie Stam, diretor de criação, e da filha, Lola, com Trancoso aconteceu em 2010, quando a família passou dez dias no lugarejo e foi capturada pela praia, pela comida, pela música e pelo Quadrado. Logo começaram as buscas por um refúgio nas cercanias. Ao encontrar esta casinha com ares de recanto de pescador, fecharam negócios e Jan deu início ao projeto de reforma. Da construção original, restou apenas metade da área existente, 45 m², onde funciona um tipo de estúdio, um cottage charmoso. De olho em mais espaço, o casal levantou, no mesmo terreno, uma segunda residência, com 125 m² e atmosfera rústica semelhante à da primeira. “Criamos um pátio interno, com piscina, que promove a ligação entre as duas”, diz Jan. Em todos os cantos da Casa Lola, como foi batizado o conjunto arquitetônico, vê-se a marca de Dati, artesão local que usou eucalipto para compor bancos, chaises, cama e outras peças que contribuíram para o RG baiano da morada.

O prazer de cuidar de cada item, afirma ela, é o que confere personalidade à ambientação. “Todas as decisões, da escolha do piso às paredes, foram bem-pensadas”, aponta, indicando a maneira como foi se apropriando do espaço já durante o processo de confecção das casas. E confecção não é modo de dizer, porque a inspiração que deu origem à proposta veio dos lençóis de tear de Trancoso, com aquela rusticidade elegante do feito à mão.

Embora resida em um loft em Manhattan e se considere uma new yorker típica, Jan acredita que as temporadas na Bahia, que podem se estender por até dois meses e acontecem cerca de três vezes ao ano, a tornaram uma pessoa mais paciente. “Os nova-iorquinos tem um ritmo acelerado. Em Trancoso, as coisas são muito mais lentas”, diz. Mas isso só melhora o lugar onde, para ela, “até as imperfeições se tornam perfeitas aos nossos olhos”. E, se a identificação com essa terra é tamanha, morar definitivamente no povoado estaria nos planos da família? Jan conta que enxerga no horizonte essa possibilidade: “Sim, num cenário ideal…”.

Ficha Técnica

  • Texto: Cristina Dantas
  • Produção: Tiago Cappi
  • Fotos: Marco Antonio

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